segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Resíduos dos Postos

Um posto revendedor de combustível possui basicamente as seguintes instalações:

1. a unidade de abastecimento de veículos (bomba de gasolina)

2. os tanques de combustíveis (geralmente enterrados)

3. os pontos de descarga de combustíveis, onde os carros-tanques fazem o reabastecimento

4. o tanque para recolhimento e guarda de óleo lubrificante usado (geralmente enterrados)

5. as tubulações enterradas que comunicam o ponto de descarga com o reservatório e este com as bombas de abastecimento

6. as edificações para escritório e arquivo morto

7. a loja de conveniência

8. o centro de lubrificação e o centro de lavagem

9. a unidade de filtragem de diesel

10. o sistema de drenagens oleosas e fluviais

11. equipamentos de proteção e controle de derrames e vazamentos de combustíveis, bem como de segurança quanto a incêndios e explosões (SANTOS, 2005).

Esquema típico de um posto de gasolina. Fonte: Santos( 2005, apud Ecoteste, 2005)


Fontes de contaminação do subsolo e aqüífero freático

Fonte: Ricardo Hirida, Decifrando a Terra, 2000 – USP


A tabela a seguir mostra os principais resíduos gerados nos postos de gasolina:

Fonte: Lorenzett, D. B. & Rossato, M. V. A gestão de resíduos em postos de abastecimento de combustível. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.Revista Gestão Industrial, v. 06, n. 02: p. 110-125, 2010.


“A principal fonte potencial de poluição em um posto de abastecimento é causada por vazamento e derrames de combustíveis no Sistema de Armazenamento Subterrâneos de Combustíveis (SASC) do empreendimento, contaminando o solo e a água, causando riscos à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com dados da CETESB (2005), de 1984 até o ano de 2004, ocorreram 550 acidentes em postos de abastecimento no estado de São Paulo, sendo que a maioria é devido a problemas com os tanques e tubulações, os principais componentes do SASC, conforme demonstrado na figura a seguir.” (Barros, 2006)



Causas de acidentes em postos de gasolina de 1984-2004. Fonte: CETESB


Da Investigação e Prevenção nos Postos de Gasolina


Piso

Sobre ele são impostos grandes esforços mecânicos pela circulação de veículos no local, principalmente, caminhões e carretas. Nestas condições, as tubulações e tanques subterrâneos estão sujeitos aos efeitos da vibração e da movimentação do solo, podendo gerar rupturas, principalmente nas conexões. Sinais de reformas existentes no piso, quase sempre, indicam que tenham sido realizados reparos em linhas ou tanques, em razão da ocorrência de vazamentos passados.


O material constituinte do piso, também é um fator importante, pois, embora não seja tão freqüente, ainda são encontrados postos e sistemas retalhistas de combustíveis não pavimentados ou mesmo construídos com blocos de concreto, asfalto ou paralelepípedos, os quais permitem que, durante as operações de descarregamento ou de abastecimento dos produtos, qualquer vazamento superficial de combustível, se infiltre no solo.


Para que esse problema não ocorra e, também, para evitar a transmissão de esforço às tubulações enterradas, o material utilizado na construção do piso do estabelecimento, bem como a sua espessura devem seguir as recomendações técnicas da ABNT.


Canaletas

As canaletas ao redor da pista de abastecimento e/ou do estabelecimento, têm a finalidade de conter os eventuais derramamentos ocorridos durante as operações de abastecimento ou de descarga dos combustíveis, bem como receber os eventuais efluentes da lavagem de veículos, e direcioná-los para um separador de água e óleo individual e segregado dos demais separadores existentes. O desvio para a via pública pode fazer com que atinjam galerias de água pluviais ou de esgotos e gerem atmosferas inflamáveis em seu interior.


Unidades de abastecimento

São freqüentes os vazamentos de combustíveis nessas unidades, também denominadas bombas de abastecimento, a partir das conexões que integram o sistema de bombeamento e abastecimento dos produtos. Em muitos casos, é possível observar o jorro ou o gotejamento de produto, mesmo estando o equipamento inoperante. Em alguns casos, o simples acionamento do bico de abastecimento é suficiente para a visualização do vazamento do combustível pelas conexões.


Um bom indicativo da existência de vazamentos nas unidades de abastecimento, é a presença de sinais de desgastes na pintura externa dos seus painéis, provocados pela ação do contato direto do produto.


Quase sempre os vazamentos por perda de estanqueidade nas unidades de abastecimento não são detectados a partir do controle de estoque manual, ou da grande maioria dos sistemas eletrônicos de detecção instalados.


Esses vazamentos, ainda que em pequenas proporções, normalmente geram grandes contaminações do subsolo, por longos períodos de tempo, motivo pelo qual recomenda-se a utilização das câmaras de contenção, confeccionadas em material impermeável, sob as unidades de abastecimento, as quais impedem o contato direto do produto vazado com o solo e indicam qualquer vazamento, através de sensores instalados em seu interior.


Tubulações

As tubulações metálicas galvanizadas convencionais são mais sujeitas à fragilização por esforço mecânico, em razão de suas características e à rigidez dos metais de que são construídas, principalmente se o piso do estabelecimento, não estiver, no mínimo, em conformidade com as recomendações técnicas.


Atualmente, são fabricadas tubulações de PEAD - Polietileno de Alta Densidade que apresentam permeabilidade similar à dos metais e possuem grande resistência mecânica, contudo são flexíveis para absorver os impactos e adaptar-se à movimentação do piso e do solo. Também são utilizadas tubulações secundárias, as quais envolvem a tubulação principal, para aumentar a eficiência da contenção de vazamentos, inclusive com a instalação de sensores de vazamentos, no espaço entre as duas tubulações.


Câmara de calçada de acesso à boca de descarga

Em sua grande maioria, as câmaras de calçada, de acesso às bocas de descarga de combustíveis dos tanques subterrâneos, não são impermeabilizadas, razão pela qual os costumeiros extravasamentos ocorridos durante o descarregamento dos produtos acabam por contaminar o subsolo, sendo comum observar-se a presença de combustível acumulado nas bocas de descarga ou a presença de solo impregnado com o produto ao redor das mesmas.


O sistema de contenção pode ser complementado pela instalação de um dispositivo de descarga selada no bocal de enchimento do tanque que para evitar o retorno do combustível em caso de ser excedida a capacidade do tanque, bem como, pela instalação de uma válvula contra transbordamentos, na linha de descarga interna ao tanque.






Câmara de calçada de boca de descarregamento contaminada

por óleo diesel. Fonte: CETESB







Filtro de óleo diesel

São comuns os vazamentos nas linhas que interligam o reservatório de armazenamento de óleo diesel do filtro às unidades de abastecimento, os quais, geralmente, acarretam a perda de produto, pois as mesmas trabalham com pressão. Um forte indicativo da ocorrência de vazamentos nas linhas é o acionamento automático da bomba de sucção do filtro, que extrai o óleo diesel do tanque subterrâneo, sem que esteja ocorrendo o abastecimento de veículos com o produto, no estabelecimento. Isto ocorre porque, com a diminuição do volume de produto armazenado no reservatório do filtro, a bomba de sucção é acionada, para repor o produto no reservatório.





Filtro de diesel

- ponto normalmente sujeito a vazamentos. Fonte: CETESB






Separadores de água e óleo

Os separadores de água e óleo, também denominados caixas-separadoras, são caixas subterrâneas com dois compartimentos, sendo um de decantação da água e outro de flutuação dos óleos, divididos por uma parede intermediária aberta na sua parte inferior, normalmente construídas em alvenaria, as quais localizam-se em frente ou nas proximidades dos locais onde é realizada a lavagem completa de veículos. Tais caixas são sujeitas à ocorrência de trincas em sua estrutura ou mesmo ao extravazamento por excessivo acúmulo de resíduos.


Atualmente, já existem separadores de água e óleo confeccionados em fibra de Poliéster, Polietileno ou outros produtos similares, os quais impedem as infiltrações de óleo ou água contaminada no solo.


Uma boa maneira para aumentar a eficiência dos separadores de água e óleo, é a instalação de mais de um compartimento de decantação e separação das fases líquidas da água e dos óleos, depurando, ao máximo, a mistura. Os separadores devem ser esvaziados e limpos com freqüência, evitando-se o excessivo acúmulo de sólidos em suspensão e borras na caixa de sedimentação ou que o mesmo seja utilizado como reservatório de estocagem desses resíduos.


Equipamentos subterrâneos devem ser devidamente fiscalizados e merecem cuidados especiais:

Tanques subterrâneos desativados

A existência de tanques desativados no estabelecimento investigado, pode ser um forte indício da existência de passivo ambiental, uma vez que, normalmente, são retirados de atividade, por apresentarem falta de estanqueidade. Ainda que não tenham sido desativados por problemas de vazamentos, esses tanques estarão mais sujeitos aos efeitos da corrosão, devido à grande área de contato com o oxigênio em seu interior.


Tanques subterrâneos de óleos lubrificantes usados

Esses tanques subterrâneos são utilizados para o armazenamento temporário de óleos lubrificantes provenientes das trocas efetuadas nos veículos, até a sua destinação final adequada.


Geralmente, por se tratar de resíduos com pouco valor comercial, não são dispensados os mesmos cuidados dados aos tanques de armazenamento de combustíveis automotivos e o controle de estoque não costuma ser rigoroso e, raramente, são efetuados testes nesses tanques, com o intuito de confirmar a sua estanqueidade.


Ainda são encontrados vários postos de revenda de combustíveis que, para essa finalidade, ainda utilizam caixas subterrâneas construídas em alvenaria, as quais são absolutamente inadequadas, uma vez que os óleos lubrificantes podem permear as paredes internas e atingir, facilmente, o subsolo.


Tanques subterrâneos de combustíveis

Esses tanques subterrâneos são utilizados para o armazenamento de combustíveis automotivos, sendo que os tanques convencionais, fabricados com aço-carbono, possuem parede única simples e são sujeitos aos efeitos da corrosão, principalmente nos pontos de solda das chapas e conexões.


Os principais fatores que influenciam o processo de corrosão estão relacionados com o pH, a umidade e a salinidade do solo onde os tanques estão enterrados. Estatísticas norte-americanas recentes indicam que 91% dos tanques subterrâneos sofrem corrosão a partir do seu exterior, enquanto que, apenas 9% deles sofrem corrosão a partir da parte interna.


As corrosões a partir da parte interna dos tanques subterrâneos estão normalmente relacionadas aos componentes do produto comercializado, como é o caso do óleo diesel com altos teores de enxofre, que facilita a degradação das chapas metálicas, sendo que a oxidação tenderá a ser mais intensa na parte vazia dos tanques, pela presença de oxigênio.


Atualmente existem tanques de parede dupla, também denominados tanques jaquetados, os quais representam um grande avanço no controle de vazamentos. Esses tanques são construídos com duas paredes e com um sensor especial, instalado no espaço intersticial com pressão negativa, o qual será acionado pela alteração da pressão interna, provocada pele entrada de ar ou da água do lençol freático por falta de estanqueidade da parede externa ou pela entrada do produto por falta de estanqueidade da parede interna.


A maioria desses tanques é construída com dois materiais distintos, sendo que a parede interna, a exemplo do modelo convencional, é construída com aço-carbono, enquanto a parede externa é construída com uma resina termofixa, não sujeita à corrosão, a qual fica em contato direto com o solo. Alguns outros modelos de tanques possuem as duas paredes fabricadas com resina.





Vista geral de um SASC, conforme normas da ABNT. Fonte: Zeppini









Fonte principal com adaptações: CETESB. Disponível em : http://www.cetesb.sp.gov.br/

Outras referências:

SANTOS, R. J. S. dos. A gestão ambiental em posto revendedor de combustíveis como instrumento de prevenção de passivos ambientais. 2005. 217f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão do Meio Ambiente) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.


Para informações técnicas e adicionais a respeito do descarte em postos de gasolina, veja: BARROS, P.E.O. Diagnóstico Ambiental para Postos de Abastecimento de Combustíveis – DAPAC. Monografia disponível em 27/07/2010: http://www.engeplas.com.br/pdf/disser.pdf



Escrito por Isis Andrade


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